Nebulizadores: manutenção e trocas de kit

Nebulizadores: manutenção e trocas de kit

Nebulizadores fazem parte da rotina de quem convive com asma, bronquite, DPOC e outras doenças respiratórias, tanto em casa quanto em ambulatórios, hospitais e serviços de emergência.

Eles transformam medicamento líquido em aerossol, permitindo que a medicação chegue às vias aéreas de forma eficiente. 

Não basta “ter um bom aparelho”: é essencial cuidar da manutenção do nebulizador e saber quando trocar o kit (máscara, copo/câmara de nebulização, mangueira, filtro, acessórios). 

Por que a manutenção do nebulizador é tão importante? 

Caderno 4 da Anvisa, voltado às medidas de prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde, destaca que inaladores e nebulizadores devem ser submetidos à limpeza e, no mínimo, desinfecção de nível intermediário, justamente para reduzir o risco de transmissão de microrganismos entre pacientes ou em um mesmo paciente ao longo do tempo. 

Esse mesmo documento reforça que: 

  • não há uma recomendação universal sobre a rotina de troca desses dispositivos quando utilizados pelo mesmo paciente; 
  • com base na experiência de instituições, recomenda-se a troca a cada 24 horas em contexto de serviço de saúde (quando o dispositivo é mantido montado, em uso contínuo); 
  • os serviços devem estabelecer rotinas e critérios próprios de troca, manipulação e processamento. 

Estudos brasileiros e internacionais sobre nebulizadores em ambiente hospitalar e domiciliar reforçam que: 

  • limpeza inadequada ou ausente aumenta o risco de colonização por bactérias; 
  • desinfecção sem limpeza prévia é pouco efetiva; 
  • a secagem inadequada pode favorecer recontaminação do equipamento. 

Em resumo: manter o nebulizador limpo, desinfetado e com componentes em bom estado é parte do tratamento, não um detalhe acessório. 

O que compõe o “kit” de nebulização? 

Embora existam diferentes tecnologias (compressor a jato, rede vibratória/mesh, sistemas hospitalares em rede de ar comprimido), o kit básico de nebulização costuma incluir: 

  • Copo/câmara de nebulização (onde o medicamento é colocado); 
  • Máscara (adulto e/ou infantil) ou bocal
  • Mangueira/tubo de ar que conecta o copo ao compressor ou à rede de ar comprimido; 
  • Filtros de ar no compressor (quando o modelo utiliza filtro substituível). 

Na Utilidades Clínicas, esses componentes aparecem tanto acoplados ao aparelho (por exemplo, inalador-nebulizadores com máscara, copo e mangueira inclusos) como em forma de kits de nebulização para reposição, com máscaras adulto/infantil, copo dosador e mangueira. 

Conhecer cada parte ajuda a entender o que precisa ser limpo após cada uso e o que deve ser trocado periodicamente

Limpeza de rotina: o que fazer após cada nebulização 

As recomendações convergem em três pontos: lavar, enxaguar e secar ao ar as partes que entram em contato com o medicamento e com a face/boca do paciente, logo após o uso.

Passo a passo geral (uso domiciliar ou ambulatorial) 

A partir das orientações de manuais de fabricante registrados na Anvisa, documentos de serviços de saúde e materiais educacionais de instituições respiratórias, podemos resumir um roteiro seguro: 

  1. Higienizar as mãos antes de manusear o equipamento. 
  1. Desligar o compressor e desconectar o copo do nebulizador, a máscara ou o bocal e a mangueira. 
  1. Desmontar o copo (quando ele tem partes internas removíveis, como tampas ou difusores). 
  1. Lavar copo, máscara e bocal em água morna e detergente neutro: 
  1. usar esponja ou escova exclusiva para o equipamento; 
  1. remover resíduos de medicamento, saliva e secreções. 
  1. Enxaguar bem em água corrente para remover o detergente. 
  1. Colocar as peças em uma superfície limpa para secagem ao ar, preferencialmente sobre papel toalha limpo ou pano exclusivo para este fim, sem friccionar (para evitar recontaminação). 
  1. Após secas, armazenar em recipiente limpo e seco, protegido de poeira e respingos. 

mangueira de ar e o compressor geralmente não devem ser imersos em água, devendo ser limpos com pano úmido ou lenço com detergente neutro, conforme instruções do fabricante. 

Desinfecção periódica: com que frequência e como? 

Anvisa orienta que nebulizadores e inaladores sejam submetidos pelo menos à desinfecção de nível intermediário, especialmente em serviços de saúde. 

Na prática, protocolos municipais e hospitalares, baseados nas recomendações da Agência, costumam determinar que: 

  • a desinfecção seja feita de forma periódica, muitas vezes a cada 7 dias para determinados materiais (quando em uso contínuo pelo mesmo paciente), independentemente da frequência de uso; 
  • os produtos recomendados incluam soluções de hipoclorito de sódio na concentração adequada ou outros desinfetantes registrados para essa finalidade, com tempo de contato definido em protocolo; 
  • a limpeza anteceda sempre a desinfecção, sob risco de reduzir a eficácia do processo. 

Para uso domiciliar, organizações respiratórias internacionais e fabricantes registrados orientam, em geral: 

  • lavar após cada uso
  • realizar um ciclo de desinfecção (por exemplo, imersão em solução desinfetante compatível, água fervente ou outro método especificado pelo fabricante) em intervalos regulares, definidos em manual; 
  • sempre permitir secagem completa ao ar antes de guardar, pois umidade persistente favorece proliferação microbiana. 

Independentemente do cenário (casa x serviço de saúde), é crucial seguir: 

  • o que consta no manual do equipamento
  • o que está definido nos protocolos institucionais
  • e as orientações do profissional de saúde responsável. 

Troca de kit: quando substituir máscara, copo, mangueira e filtro 

Aqui entra a pergunta que todo mundo faz: “de quanto em quanto tempo eu preciso trocar o kit de nebulização?” 

O Caderno 4 da Anvisa deixa claro que não há, na literatura, uma rotina universalmente definida para troca dos dispositivos quando usados pelo mesmo paciente. Por isso, recomenda-se que cada serviço estabeleça seus critérios, e cita como referência prática a troca a cada 24 horas em contexto institucional. 

Para organizar essa decisão, vale separar dois contextos: serviço de saúde e uso domiciliar

1. Serviços de saúde (ambulatório, hospital, pronto-atendimento) 

Em unidades de saúde, a troca de kits precisa considerar risco de infecção, fluxo de pacientes e protocolos da CCIH

De forma geral, protocolos de limpeza e desinfecção de nebulizadores em serviços públicos apontam que: 

  • kits de nebulização usados em pacientes diferentes devem ser individualizados ou adequadamente desinfectados entre usos
  • quando o kit é mantido montado e em uso contínuo para um mesmo paciente, recomenda-se troca em até 24 horas, além de limpeza e desinfecção conforme rotina; 
  • sinais de desgaste (rachaduras, opacificação, deformações, perda de vedação na máscara ou mangueira ressecada) indicam substituição imediata, mesmo antes do prazo adotado internamente. 

2. Uso domiciliar 

Em casa, como o nebulizador costuma ser usado sempre pelo mesmo paciente (ou por poucos membros da família), a troca do kit é mais guiada por: 

  • recomendações do fabricante (alguns manuais sugerem troca do kit ou de partes após certo período de uso intenso); 
  • desgaste visível
  • máscara deformada ou que não sela bem o rosto; 
  • copo com fissuras, opaco, com travas que não fecham bem; 
  • mangueira ressecada, endurecida ou com rachaduras; 
  • aumento de odor desagradável ou dificuldade de limpar completamente o equipamento, mesmo seguindo o passo a passo. 

Uma regra prática segura é: se o componente perdeu transparência, está quebradiço, deformado ou difícil de higienizar, precisa ser trocado, mesmo que ainda “funcione”. 

Em kits de uso intenso, famílias e serviços de home care costumam planejar troca de máscaras e copos em intervalos regulares (por exemplo, a cada alguns meses), sempre alinhando com fabricante e equipe de saúde. 

Manutenção do compressor e do filtro de ar 

A qualidade da nebulização não depende só do kit descartável/reutilizável. O compressor também precisa de cuidados. 

Manuais de usuários de inaladores registrados na Anvisa destacam a importância de: 

  • manter o aparelho em superfície firme, ventilada, longe de fontes de calor e de respingos de água
  • limpar a parte externa com pano levemente umedecido em água e detergente neutro, sem imersão em água; 
  • não obstruir as entradas de ar durante o uso; 
  • verificar periodicamente o filtro de ar
  • substituir quando estiver sujo, escurecido ou úmido; 
  • usar apenas filtros compatíveis com o modelo, conforme manual; 
  • respeitar o tempo máximo contínuo de funcionamento indicado pelo fabricante, evitando sobreaquecimento. 

Compressores hospitalares ligados à rede de ar comprimido também exigem manutenção específica, seguindo normas internas de engenharia clínica e recomendações do fabricante. 

Boas práticas para reduzir risco de contaminação 

Alguns princípios aparecem repetidamente em manuais de biossegurança, estudos e orientações de controle de infecção: 

  • Higiene das mãos sempre antes e depois de manipular o nebulizador. 
  • Uso de ampolas de medicamento estéreis, respeitando prazo de uso após abertura. 
  • Não compartilhar kits entre pacientes sem limpeza e desinfecção apropriadas. 
  • Evitar guardar o equipamento úmido ou em locais com poeira, banheiro ou locais sujeitos a respingos. 
  • Em serviços de saúde, seguir fielmente os POPs de limpeza e desinfecção da instituição, em alinhamento com CCIH e Anvisa. 

Essa combinação é especialmente crítica em pacientes com doenças crônicas respiratórias, imunossuprimidos e crianças pequenas. 

Conclusão 

Manter o nebulizador em bom estado é parte integrante do tratamento respiratório. Quando a manutenção é feita de forma planejada, você ganha em três frentes: 

  • segurança, ao reduzir risco de contaminação e infecção associada ao equipamento; 
  • eficácia, ao garantir que o aparelho realmente entrega o medicamento na forma de aerossol adequado; 
  • conforto, com máscaras, copos e mangueiras em bom estado, sem vazamentos ou ruídos excessivos. 

Os pontos-chave são: 

  • limpar copo, máscara e bocal após cada uso; 
  • desinfetar periodicamente, de acordo com protocolos e manual do fabricante; 
  • trocar kits e componentes sempre que houver desgaste, dificuldade de limpeza ou conforme a rotina definida (24 horas em serviços de saúde e, em casa, em intervalos acordados com o profissional, respeitando a vida útil); 
  • cuidar do compressor e do filtro de ar, mantendo o conjunto íntegro. 

Quando essas orientações se encontram com um portfólio organizado de aparelhos e kits de reposição, como o da Utilidades Clínicas, o nebulizador deixa de ser apenas um “equipamento de crise” e passa a ser um aliado confiável na gestão da saúde respiratória

Fontes 

  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Caderno 4 – Medidas de Prevenção de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. (seção sobre inaladores, nebulizadores e rotinas de limpeza/desinfecção).
  • Ministério da Saúde / Secretarias Estaduais e Municipais. Manuais e POPs de limpeza e desinfecção de nebulizadores e artigos ventilatórios (Porto Alegre, Piraquara, Paranapoema, Lobato, entre outros).
  • Fiocruz. Manual de Biossegurança para Serviços de Saúde.
  • MacFarlane M et al. Nebuliser cleaning and disinfection practice in the home environment of adults with cystic fibrosis. J Cyst Fibros. 2019. 
  • Redução A et al. Cuidados na utilização e na limpeza de nebulizadores e compressores em pacientes com fibrose cística. Rev HUPE. 
  • Silva HM et al. Desinfecção de nebulizadores nas unidades de saúde. Rev HU-UFMA. 

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