Aferir a temperatura corporal é uma das etapas mais básicas da avaliação clínica, mas continua sendo um dado essencial na tomada de decisão.
A definição de febre, por exemplo, foi recentemente atualizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que considera febre a temperatura axilar maior ou igual a 37,5 ºC, medida com termômetro digital.
Ao mesmo tempo, estudos mostram diferenças de desempenho entre termômetros clínicos de contato, termômetros infravermelhos e outros dispositivos, com impacto direto na acurácia da medida.
Medição de temperatura: o que é febre hoje?
Do ponto de vista fisiológico, a temperatura corporal é regulada pelo hipotálamo e pode variar conforme horário do dia, idade, atividade física, ciclo hormonal e local de medida (axilar, oral, timpânica, retal). Revisões recentes destacam que não existe “um único número mágico”, mas faixas de normalidade e de febre, ajustadas por local de aferição.
A SBP, em documento atualizado, orienta que:
- a medida axilar com termômetro digital é o método mais seguro e recomendado em crianças, principalmente lactentes;
- em crianças menores de um ano, o termômetro deve ser digital, preferencialmente na axila;
- febre é considerada quando a temperatura axilar é maior ou igual a 37,5 ºC;
- a decisão de medicar não deve se basear apenas no número, mas também em sinais clínicos e desconforto.
Em adultos, valores próximos a esses também são utilizados, mas sempre contextualizados aos sintomas e ao quadro geral.
Tipos de termômetro: clínico digital, infravermelho e outros
Historicamente, o termômetro de mercúrio foi o padrão em muitos serviços, mas hoje é desencorajado, especialmente em pediatria, por risco de quebra e exposição ao mercúrio. Organizações internacionais recomendam dar preferência a termômetros eletrônicos e infravermelhos.
De forma geral, na prática clínica e domiciliar, os tipos mais comuns são:
- termômetro clínico digital de contato (oral, axilar ou retal);
- termômetro infravermelho de testa (sem contato);
- termômetro infravermelho timpânico (auricular);
- termômetros específicos para uso em ambientes e superfícies (também infravermelhos, mas não destinados à medida clínica direta).
A seguir, vamos detalhar os principais grupos usados para monitoramento da temperatura corporal.
Termômetro clínico digital de contato
O termômetro clínico digital substituiu, na maioria dos cenários, o antigo termômetro de vidro com mercúrio. Ele utiliza um sensor eletrônico de temperatura e exibe o valor em visor digital, geralmente com sinal sonoro ao final da leitura.
Onde pode ser utilizado?
- Axila: método preferencial em crianças, especialmente menores de um ano, e amplamente utilizado em adultos por ser menos invasivo.
- Cavidade oral: mais comum em adultos e crianças maiores; exige cooperação, boca fechada e cuidado com ingestão prévia de alimentos e bebidas.
- Via retal: pode ser usado em alguns contextos específicos (por exemplo, neonatologia), sempre com termômetro apropriado, técnica correta e indicação por equipe de saúde.
Vantagens
- boa acurácia, especialmente em modelos que atendem às normas técnicas internacionais;
- ampla disponibilidade em serviços de saúde e domicílios;
- facilidade de uso após orientação simples (posicionar, aguardar o sinal sonoro, ler o valor).
Limitações
- tempo de leitura um pouco maior que alguns dispositivos infravermelhos;
- necessidade de contato direto com a pele ou mucosa, o que exige limpeza rigorosa entre usos;
- risco de medidas alteradas se:
- o paciente estiver muito agasalhado,
- houver suor excessivo na axila,
- a técnica não for seguida (posicionamento inadequado, tempo insuficiente).
Na Utilidades Clínicas, os termômetros clínicos digitais de contato estão disponíveis na categoria de Termômetros – Aparelhos Médicos, incluindo versões para uso axilar, oral e retal, além de kits acadêmicos que integram termômetro digital a outros instrumentos de avaliação.
Termômetro infravermelho: como funciona e quando usar
Os termômetros infravermelhos ficaram muito populares a partir da pandemia de Covid-19, especialmente modelos de testa sem contato. Eles medem a radiação infravermelha emitida pela superfície da pele e convertem esse sinal em temperatura.
Anvisa explica que:
- a radiação infravermelha é um tipo de luz não visível, emitida por qualquer corpo quente;
- o termômetro possui um sensor que capta essa radiação e transforma em leitura de temperatura;
- o uso correto depende de fatores como distância do ponto de medida, local de aferição e condições ambientais.
Importante: boatos sobre danos neurológicos causados por termômetros infravermelhos na testa foram desmentidos pela própria Anvisa e por instituições hospitalares. Quando usados corretamente, esses dispositivos são considerados seguros.
Tipos de termômetro infravermelho
- Termômetro de testa sem contato
- mede a temperatura da pele na região frontal ou sobre a artéria temporal;
- leitura rápida (geralmente em 1–4 segundos);
- muito usado em triagens, consultórios, hospitais e domicílios.
- Termômetro timpânico (auricular)
- mede a radiação infravermelha emitida pelo tímpano e canal auditivo;
- pode se aproximar mais da temperatura central, quando utilizado corretamente;
- exige técnica adequada e cautela em crianças pequenas.
Vantagens
- leitura muito rápida, útil em triagem e em pacientes pediátricos inquietos;
- não requer contato físico na modalidade de testa, o que reduz desconforto e risco de contaminação cruzada quando respeitado o protocolo de uso;
- pode ter múltiplos modos (corpo, superfície, ambiente), úteis para monitorar temperatura de soluções e ambientes em home care.
Limitações
Estudos e revisões sistemáticas mostram que termômetros infravermelhos, principalmente de testa, podem ter maior variabilidade e menor concordância com métodos de referência (como retal ou tympanic bem calibrado) se:
- a distância não for a recomendada pelo fabricante;
- a região estiver suada, molhada ou coberta por cabelo;
- houver interferência do ambiente (ar-condicionado direto, calor intenso, vento);
- o equipamento não estiver calibrado ou for de baixa qualidade.
Além disso, a SBP orienta que, em crianças, termômetros infravermelhos (timpânico ou frontal) sejam usados preferencialmente por profissionais treinados, devido à margem de erro em uso leigo. Para uso domiciliar, reforça a prioridade do termômetro digital de contato na axila.
Na UC, a linha de termômetros infravermelhos digitais inclui modelos de testa sem contato e auriculares, muitos com registro na Anvisa, leitura em poucos segundos e modos múltiplos de medição (corpo, superfície e ambiente).
Termômetros para controle de temperatura em ambientes e superfícies
Além da medição da temperatura corporal, serviços de saúde e home care utilizam termômetros para:
- monitorar temperatura de ambientes (consultórios, salas de observação, estoques, refrigeradores de medicamentos);
- medir temperatura de superfícies e soluções (por exemplo, soluções de limpeza, banheiras, leites e fórmulas infantis).
Esses equipamentos também podem ser infravermelhos, mas é essencial diferenciar termômetros clínicos (destinados à medição de temperatura corporal, sujeitos à regulamentação sanitária) de termômetros industriais ou ambientais.
Na Utilidades Clínicas, a categoria de Termômetros contempla modelos para monitoramento da temperatura corporal e também opções voltadas a controle de temperatura em ambientes ligados à saúde.
Termômetro clínico x infravermelho: quando usar cada um?
Em casa, com crianças, as recomendações mais recentes da SBP e revisões sobre manejo de febre infantil convergem para:
- Método preferencial: termômetro digital de contato na axila;
- Em lactentes menores de quatro semanas, a aferição deve ser feita na axila, com cuidado especial à técnica;
- Termômetros infravermelhos (timpânico ou de testa) podem ser úteis, mas são mais sensíveis a erros de uso; quando usados por leigos, devem ser interpretados com cautela e, em caso de dúvida, conferidos com termômetro digital axilar.
Em adultos, em domicílio:
- Termômetro digital axilar ou oral é geralmente suficiente, seguindo orientação de higienização e técnica de uso;
- Termômetros infravermelhos podem ser úteis pela rapidez, especialmente em pessoas que precisam de monitorização frequente, desde que se respeitem distância, local de medida e condições ambientais.
Em consultórios, clínicas e hospitais:
- A escolha depende do protocolo institucional, da faixa etária e da situação clínica;
- Termômetros digitais axilares ou timpânicos são amplamente utilizados, com preferência por dispositivos aprovados e calibrados;
- Termômetros infravermelhos sem contato são particularmente úteis em triagem rápida, compondo o conjunto de dispositivos de monitoramento (junto a oxímetros de pulso, esfigmomanômetros digitais, etc.), como discutido também em conteúdos de triagem e tecnologias para clínicas no blog da UC.
Independente do tipo de termômetro, documentos técnicos, manuais de fabricantes e orientações de saúde pública reforçam alguns cuidados:
- Leia o manual do fabricante
- cada modelo tem instruções específicas de uso, tempo de leitura, local ideal e cuidados de limpeza.
- Use sempre no mesmo local de aferição
- misturar leituras axilares, orais e de testa torna a comparação difícil;
- defina um local padrão (por exemplo, axila em crianças) e mantenha a técnica.
- Evite medir logo após banho quente, atividade física intensa ou ingestão de líquidos muito frios/quentes
- aguarde alguns minutos para evitar distorções de superfície, especialmente em medidas orais ou de testa.
- Cuide da higienização
- limpe o sensor e as partes em contato com a pele seguindo o manual (álcool em concentração adequada, panos macios, nunca imergir componentes que não são à prova d’água);
- em termômetros de contato, considere capas descartáveis ou higienização rigorosa em ambiente clínico.
- No infravermelho de testa, respeite distância e posicionamento
- mantenha a distância recomendada (por exemplo, 3 a 5 cm);
- evite testar sobre áreas suadas ou cobertas;
- não aponte para cabelo ou sobrancelhas.
- Interprete a temperatura no contexto clínico
- febre é um sinal, não um diagnóstico isolado;
- em crianças, além da temperatura, devem ser avaliados sinais de alerta (prostração intensa, dificuldade para respirar, recusa alimentar importante, entre outros).
Conclusão
Termômetros clínicos digitais de contato e termômetros infravermelhos são aliados importantes na prática em saúde e no acompanhamento domiciliar. A escolha do dispositivo ideal depende de:
- faixa etária e condição clínica;
- contexto de uso (casa, consultório, hospital, triagem);
- capacidade de seguir corretamente a técnica de aferição.
De forma geral:
- termômetros digitais de contato, especialmente na axila, seguem sendo a escolha preferencial em crianças e uma opção segura para adultos;
- termômetros infravermelhos, usados com técnica adequada, agregam rapidez, conforto e praticidade, sobretudo em triagens e em cenários que exigem medidas frequentes;
- a interpretação da leitura deve sempre considerar o quadro clínico e as recomendações de sociedades científicas e equipes de saúde.
Com equipamentos de qualidade, devidamente regularizados e alinhados às orientações de órgãos como Anvisa, SBP e OMS, o monitoramento da temperatura ganha precisão e segurança – tanto em casa quanto nos serviços de saúde.
Fontes
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Informações técnicas sobre o uso de termômetro infravermelho. Acessar em: https://www.gov.br/anvisa
- Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Febre: cuidado com a febrefobia. (Material educativo para famílias). Acessar em: https://www.sbp.com.br
- SBP – Documentos e posicionamentos sobre febre e medição de temperatura em pediatria.
Acessar em: https://www.sbp.com.br
- Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO). Conteúdos sobre febre, sinais vitais e monitorização.
Acessar em: https://www.who.int
- Pecoraro V et al. The diagnostic accuracy of digital, infrared and mercury-in-glass clinical thermometers.